quarta-feira, 6 de maio de 2015

Quando panela de rico bate, panela de pobre esvazia (Por Thiago Muniz)

Rico não se manifesta no interesse dos de baixo. Essa classe social tão barulhenta não quer ver mais pobres em aeroportos ou universidades, quer ver menos. Tem ojeriza ao povo.

É incrível como, no Brasil, basta rico soltar um peido que o país para.

Na noite da última terça-feira, um bando de moradores de bairros “nobres” de algumas capitais combinou pela internet de fazer um “panelaço” durante o programa partidário do PT, garantido ao partido e aos seus simpatizantes, militantes e eleitores pela Carta Magna. Esse protesto, impossível de quantificar, foi parar no Jornal Nacional.

Segundo o insuspeito Estadão, em São Paulo as panelas soaram em “bairros nobres, como Higienópolis, Jardins, Perdizes, Bela Vista, Tatuapé, Vila Romana, Ipiranga, Morumbi, Pinheiros, Praça da Árvore, Vila Mariana, Pompéia e Itaim Bibi.

Por aí dá para se ter uma ideia de quão poucos cidadãos – que mal sabem onde fica a cozinha de seus imensos apartamentos – fizeram essa manifestação de egoísmo contra um partido cuja obra social marcou tanto este país que o mesmo partido já elegeu QUATRO presidentes da República em sequência.

No Rio, os “panelaços” também se reduziram a bairros “nobres” da Zona Sul, como Copacabana, Leme, Lagoa, Ipanema e Botafogo. Já em bairros populares da Zona Norte, como o Grajaú, algum desavisado que aderiu às manifestações da elite ouviu de volta gritos em favor de Lula – sempre segundo o Estadão.

Lula não se elegeu em 2002, reelegeu-se em 2006, elegeu a sucessora em 2010 e esta reelegeu-se em 2014 à toa. Sim, claro que Dilma Rousseff perdeu popularidade, mas esse fenômeno decorre do medo do terrorismo econômico – que conseguiu prejudicar a economia – e, tão logo a economia entre nos eixos, as coisas irão mudar.

A menos que a sabotagem continue e alcance seu objetivo, claro. Mas sabotar a economia é um jogo que a elite pode jogar por um tempo, mas que não irá jogar mais quando a água começar a lhe bater na bunda.

O mesmo aconteceu em outras capitais, segundo o Estadão. Em Florianópolis e Porto Alegre o jornal também relata que o “panelaço” ficou mesmo lá nos bairros de rico.

Por que rico protesta contra o PT? Não é por medo do terrorismo econômico. Eles sabem que não estão perdendo nada. O problema dessa gente é aturar pobre em aeroporto, shoppings, universidades e até, ousadia das ousadias, em restaurantes e casas noturnas da moda.

Precisa ser cego e surdo para dizer que não sabe quanto as pessoas mais pobres melhoraram de vida desde 2003. As lojas estão cheias de pobres comprando celulares, televisões de última geração; o desemprego, mesmo tendo subido um pouco, ainda é um dos mais baixos da história; a quantidade de universitários praticamente dobrou nos últimos 12 anos…

Mas boa parte dessas pessoas está com medo. A inabilidade do governo ao promover o ajuste fiscal soou mal e conferiu verossimilhança a uma cantilena sobre desastre econômico que vinha sendo martelada havia anos, mas todos os analistas mais importantes – incluindo aí FMI, Banco Mundial e agências de classificação de risco – preveem melhora a partir do ano que vem.

Então por que os ricos batem panela? Por que atacam um ex-presidente que, segundo o Datafolha, não só melhorou a vida da imensa maioria como também é considerado por essa maioria como o melhor presidente da história?

É oportunismo, caro leitor. O PSDB, freguês do PT há quatro eleições presidenciais seguidas, quer obter lucro eleitoral enquanto pode, por isso estimula um grupelho de endinheirados de bairros “nobres” a servir de massa de manobra. Gente preconceituosa, elitista, que acha que se tirar os benefícios do pobre elegendo um governante pró ricos, vai sair ganhando.

Não vai. Este país está à beira de uma convulsão social há muito tempo. Só ainda não ocorreu de o morro descer para o asfalto para cobrar a nossa descomunal dívida social graças a alguém que essa elite cretina execra. Ele mesmo, Lula.

Se não fosse a distensão social promovida pelos governos do PT a partir de 2003, essa gente que bate panela para tirar direitos e oportunidades de pobre talvez nem estivesse aqui para contar a história, pois se – ou quando – o morro descer, vai cobrar a dívida social à bala.

Essa história de rico bater panela quando pobre melhora de vida, vem de longe. Faz algum tempo, a Folha de São Paulo publicou reportagem muito interessante que mostra que essa forma de protestar foi criada no Chile no estertor do governo Salvador Allende, pouco antes de Pinochet dar o golpe.

O resultado daquilo todo mundo conhece.

Rico escolheu um jeito esdrúxulo de se manifestar politicamente. O ato de bater panelas sugere protesto contra a fome, que foi justamente o que os governos do PT combateram. E que tanto desagradou aos paneleiros.

Quando rico bate panela para defender seus interesses políticos, pobre ou remediado deve abrir o olho. Rico não se manifesta no interesse dos de baixo. Essa classe social tão barulhenta não quer ver mais pobres em aeroportos ou universidades, quer ver menos. Tem ojeriza ao povo. Não entre no jogo de uma gente que tanto mal já fez ao Brasil.

Estou a ver televisão, quando é anunciado o programa político do Partido dos Trabalhadores. De repente, alguns vizinhos do prédio onde moro e dos edifícios circunvizinhos começam a bater em panelas, frigideiras, fôrmas, caçarolas e tambores. Sim... Tambores? Afinal, trata-se da tribo dos coxinhas paneleiros, que remonta, por intermédio do som de um batuque mequetrefe e desprovido de ritmo e harmonia, as origens e os sentimentos mais antigos da humanidade — os mais ferozes e inconfessáveis.

Reacionários e rancorosos em crise de identidade, porque portadores de uma depressão psicossocial sem precedentes, os coxinhas paneleiros, moradores dos bairros de classe média, média alta e ricos nunca passaram fome na vida e, ignorantes, não percebem o quão ridículo é bater em panelas, um símbolo de protesto dos povos latino-americanos reprimidos pelas ditaduras ou pelos pobres, que ocupavam as praças, a realizar os "panelaços", porque realmente sentiam fome. Uma fome generalizada até os idos da década de 1990, quando a América do Sul, por exemplo, foi varrida em sua dignidade por causa de presidentes ou mandatários neoliberais que conquistaram o poder e "ferraram" com seus povos e países, a exemplo de FHC — o Neoliberal I.

Agora e neste momento, os coxinhas batuqueiros de panelas estão a demonstrar uma profunda depressão cívica, que contamina seus humores e cérebros, que não conseguem ao menos debater o País e perceber, inclusive, que suas vidas melhoraram de forma real, na prática e no dia a dia. Porém, a vitória de Dilma Rousseff sobre Aécio Neves causou um pânico e inconformismo a essa gente fútil e deslumbrada, que sonha em ter ascensão social para frequentar a classe A. Este é o sonho "dourado" de nove entre dez coxinhas ritmistas de panelas de marca e que reluzem como as luzes da ribalta de suas lindas salas refrigeradas e repletas de quadros, abajures e candelabros.

Trata-se da depressão da "coxada", que se sente profundamente traída pelos governos petistas por ver empregados braçais, gente de origem humilde e trabalhadores em geral a ocupar os espaços públicos e alguns privados até então destinados "somente" para a pequena burguesia de temperamento feroz e intolerante, ao ponto de mandar a educação às favas, além de xingar e vociferar contra tudo e todos, com palavrões e palavras ríspidas as pessoas que não compartilham com suas concepções políticas e ideológicas notadamente ridículas, pueris, sectárias, provincianas, racistas, que formam o conjunto de seus preconceitos e violências.

Lamentável é a ignorância social e histórica dessa gente de alma pequena, mas mesquinhez e insensatez gigantescas, bem como se apresenta em forma de desfaçatez e infâmia o analfabetismo político desse grupo social aliado dos interesses dos ricos e dos muito ricos. Coxinhas paneleiros encolerizados, donos de bons empregos, que viajam e compram o que desejam, passam a bramar e a esbravejar com a barriga cheia de comida e bebida, mas os cérebros vazios de ideias, de conhecimento, de generosidade e sensatez. Trata-se do dantesco em toda a plenitude de sua estupidez.

Enquanto isto, a imprensa burguesa, leviana e venal, fonte de informação preferida dos coxinhas paneleiros que conhecem Miami e desconhecem as realidades do Brasil e de seu povo, fica a cantar loas e boas a um panelaço promovido por burgueses e pequeno burgueses, nos melhores bairros das capitais do País, como se fosse um protesto do povo brasileiro, que votou em Dilma e não em Aécio Neves, candidato da direita, das oligarquias e dos coxinhas paneleiros de classe média, que jamais vão ser ricos e, consequentemente, não frequentarão os saraus, a comezaina, os regabofes e a papança dos ricos e dos muito ricos. É melhor os pais coxinhas avisarem seus filhos coxinhas sobre esta dura, porém, verdadeira realidade. Coitados...

A verdade é a seguinte: os coxinhas paneleiros de péssimo ritmo e harmonia estão cagando e andando para a corrupção e para "tudo o que está aí". Se estivessem, eles iriam bater tanto nas panelas, que não sobrariam mais tão importantes objetos no mercado consumidor. Afinal, e imaginem, se tais coxinhas revoltados resolvessem ter, enfim, uma pauta séria de reivindicações e exigissem à base da porrada em panelas a investigação, a denúncia, a acusação, o julgamento e a prisão de todos os corruptos, inclusive da oposição, leia-se PSDB, DEM, PPS(PSB), PRO, SD etc., além de empresários de outros setores da economia, que não sejam apenas da construção civil, a exemplo dos magnatas bilionários de imprensa, que estão nas listas dos escândalos HSBC e Zelotes.


Imagine os coxinhas paneleiros de janelas e varandas, seres humanos(?) completamente despolitizados e que viajam todo o dia na maionese, exigir com porradas em panelas, que antes estavam abarrotadas de comida boa e saborosa, a prisão dos responsáveis pelos roubos da Lista de Furnas, do Banestado, do Trensalão, do Metrozão, do maior roubo do mundo: a Privataria Tucana, do Mensalão Tucano, da sonegação da Rede Globo referente à Copa do Mundo de 2002, dentre inúmeros casos, acusações e denúncias, que a PGR, o MP, o STF, a Receita, a PF resolveram congelar. Só não me perguntem se essas instituições fazem política ou se aliaram à oposição aos Governos do PT. O que você acha, cara pálida?

Então, se já imaginou, imagine também se os coxinhas paneleiros, cujas "revoltas" são, sobretudo, seletivas, resolvessem acabar com os fundos de suas panelas porque estão "putos" da vida com a Lei da Terceirização, que prejudica a classe trabalhadora, com os aeroportos construídos em fazendas de parentes de Aécio Neves, com o massacre dos professores do Paraná, com a falta de água e de planejamento do governo de São Paulo, à frente o governador tucano Geraldo Alckmin, ou com a dengue que infestou o estado bandeirante, o mais industrializado do País, cujo povo está a ser comido por mosquitos, que lhes dão em troca dor e febre.

Não. De forma alguma. E a reforma política? Os coxinhas berram por ela nas ruas, mesmo sabendo que o financiamento privado de campanhas é o maior responsável pela corrupção, como informa, inapelavelmente, o noticiário sobre os escândalos? A resposta é um sonoro não! Os coxinhas paneleiros são reacionários e amargurados, quiçá, violentos. Apostam no atraso e no retrocesso e só faltam gritar, a pleno pulmões, "Mamãe, eu quero o meu Brasil sectário e elitista de volta!", para logo complementar: "Eu quero a minha universidade pública, o meu bairro, o meu aeroporto e aviões, o meu shopping, o meu cinema, bar e restaurante, a minha loja de eletroeletrônicos e de carros de volta, porque somente eu e os meus podem usufruir das coisas boas da vida!"

Por fim, o revoltado coxinha paneleiro e seletivo dá um altissonante rugido: "Eu não quero — acredite, é sincero e pra valer o preconceito enraizado e a hipocrisia que sinto — ver a minha empregada doméstica, o meu mecânico e o meu porteiro em Paris, Miami, Londres e Nova York. Tudo, menos isto. Do contrário, prefiro a morte!" E assim segue o Brasil, que, em 2018, vai realizar outra eleição presidencial. Os coxinhas das "revoltas" seletivas ainda vão bater muito em suas panelas chiques e de grife. O melhor a fazer é entrar em uma escola de samba ou bloco carnavalesco e treinar a batucada. Ou usar as panelas para cozinhar. É isso aí.

Que batam panelas até furar.

Para além de 2018!

Não desistam… O Brasil é grande. Cabe até paneleiro ignorante nesse país.

Somos generosos com a ignorância de vocês.

Mas não se equivoquem: panela não é urna, respeitem meu voto!

Golpe nunca mais!

Viva a Democracia!



BIO

Thiago Muniz tem 33 anos, colunista dos blog "O Contemporâneo", do site Panorama Tricolor e do blog Eliane de Lacerda. Apaixonado por literatura e amante de Biografias. Caso queiram entrar em contato com ele, basta mandarem um e-mail para:thwrestler@gmail.com. Siga o perfil no Twitter em @thwrestler.

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