segunda-feira, 8 de junho de 2015

Rosinha de Valença: a lenda e seu violão soberano (Por Thiago Muniz)

Ela é considerada uma das matrizes instrumentistas da Bossa Nova.

Maria Rosa Canellas, conhecida por Rosinha de Valença, (Valença, 30 de julho de 1941 - 10 de junho de 2004) foi uma violonista, cantora e compositora brasileira. O nome artístico lhe teria sido dado por Sérgio Porto, que dizia que ela tocava por uma cidade inteira.

Violonista concertista, cantora, e compositora nascida em Valença, no interior do Estado do Rio de Janeiro, Rosinha de Valença foi um dos mais importantes nomes femininos da música popular brasileira e considerada uma das matrizes instrumentais da bossa nova.

Ainda criança começou a se interessar pelo violão, assistindo aos ensaios do conjunto regional de seu irmão, Roberto. Incentivada por esse irmão, começou a estudar violão sozinha, ouvindo músicas de rádio e, aos 12 anos, com técnica impressionante, já tocava na rádio da cidade e animava festas e bailes da região. Deixou os estudos para dedicar-se inteiramente à música e, em 1963, mudou-se para o Rio.

Sobrinha do músico Fio da Mulata, recebeu do tio as primeiras noções de violão, desenvolvendo, em seguida, sua própria técnica. Aos 12 anos de idade, já acompanhava cantores na Rádio de Valença e se apresentava, com um grupo regional, em bailes da sua cidade. Em 1960, abandonou os estudos para dedicar-se exclusivamente à música.

Descoberta pelo jornalista Sérgio Porto, o Stanislaw Ponte Preta, que a apresentou a Baden Powell e Aloysio de Oliveira, na boate Au Bon Gourmet. De Sérgio, ganhou o nome artístico de Rosinha de Valença. Na descrição entusiasmada do jornalista, Rosinha tocava por uma cidade inteira.

Passou a tocar na boîte Bottle's, onde ficou por oito meses, e gravou seu primeiro disco, Apresentando Rosinha de Valença (1963), pela gravadora Elenco, pertencente a Aloysio. Destacou-se como excelente instrumentista, apresentando-se em programas de televisão como O Fino da Bossa, ao lado de Baden Powell, mestre de seu estilo no instrumento. Sua atuação com Baden foi fundamental para o rumo instrumental que a bossa nova veio a desenvolver.

Viajou (1964), excursionou pelos Estados Unidos com Sérgio Mendes e seu grupo "Brasil 65" e mais Chico Batera, Jorge Ben, Wanda Sá e Tião Neto. O grupo gravou dois discos. Seguiu depois para a Europa como solista de um grupo formado pelo Itamaraty, para divulgar a música popular brasileira no exterior, apresentando-se em 24 países europeus. Rosinha passou também uma temporada em Paris, com uma bolsa de estudos da Embaixada da França. Em 1967, foi a violonista do show Comigo me desavim, de Maria Bethânia.

Depois de sucessivas viagens e apresentações na URSS, Israel, Suíça, Itália, Portugal e países africanos, voltou ao Brasil em 1970 e engajou-se em movimentos de valorização da música instrumental do Brasil.

A artista retornou ao Brasil em 1971 e passou a produzir discos de Martinho da Vila, participando de seus quatro LPs. Também produziu discos, dos quais participou igualmente como instrumentista, Nara Leão, Maria Bethânia e Miúcha, entre outros, e trabalhou com grandes nomes da música internacional, como o saxofonista Stan Getz e a cantora Sarah Vaughn. Depois voltou para a França.

De volta ao Brasil em 1974, organizou uma banda que teve várias formações e contou com a participação de artistas como o pianista João Donato, o flautista Copinha e as cantoras Ivone Lara e Miúcha. Por sua atuação, ganhou um prêmio da Ordem dos Músicos do Brasil. Nos anos seguintes apresentou-se em diversos shows, ao lado de sua banda ou sozinha e acompanhando outros artistas. Gravou mais de uma dezena de LPs, editados no Brasil, EUA, Alemanha e França, por várias gravadoras, entre as quais RCA, Odeon, Forma, Pacific Jazz e Barclay.

Um dos momentos marcantes de suas gravações foi Violões em Dois Estilos, gravado com Waltel Branco, pela Som Livre (1980), com repertório bastante eclético, com faixas como "Porto das Flores" (de sua autoria), "Asa Branca" (de Luís Gonzaga e Humberto Teixeira), "Morena do mar" (de Dorival Caymmi), "Ponteio" (W. Blanco), "Minueto e Prelúdio nº 13" (J. S. Bach).

Quando sofreu a parada cardíaca (1992) que lhe causou uma lesão cerebral e a deixou em coma, ela estava de férias no Brasil. Desde então, Rosinha permaneceu em estado vegetativo e foi levada de volta para Valença. Dois anos após entrar em coma, um grupo de artistas realizou um show beneficente no Canecão para ajudar a custear suas despesas médicas.

Desde então, diversos shows-tributo foram organizados por amigos e familiares para ajudar a custear o tratamento da violonista. Os primeiros oito anos em que permaneceu em coma passou-os na casa da irmã mais velha, Mariló e, após o falecimento desta, ficou aos cuidados de outra irmã, Maria das Graças, em um bairro humilde de Valença, na companhia de alguns parentes, como seu tio Finzinho e seu primo Marcos Aurélio, militar e também músico. Após 12 anos em coma, uma das mais destacadas instrumentistas da Bossa Nova foi internada no Hospital Escola Luiz Giosef Jannuzzi, onde veio a falecer no dia seguinte, em junho (2004), aos 62 anos, de insuficiência respiratória, em sua cidade natal, Valença, no sul do Estado do Rio de Janeiro. Seu corpo foi enterrado no cemitério Riachuelo, no centro de Valença.

Rosinha de Valença ficou doze anos em estado de coma. Ela vivia em estado vegetativo desde 1992, quando uma parada cardíaca provocou uma lesão permanente no cérebro da violonista. Dois anos após entrar em coma, um grupo de artistas realizou um show beneficente no Canecão para ajudar a custear as despesas médicas da violonista. Foi uma das várias apresentações realizadas para ajudar e manter a memória da artista. Os primeiros oito anos do coma Rosinha passou na casa da irmã mais velha, Mariló, que veio a falecer. Depois disso, a violonista passou a morar com a irmã mais nova, Maria das Graças, em um bairro humilde de Valença.

Em 2000, foi homenageada com o show beneficente "Uma noite para Rosinha", realizado no Canecão (RJ). O espetáculo foi organizado por Jalusa Barcellos, da Secretaria Estadual de Cultura e apresentado por Sérgio Cabral. Contou com a direção geral de Haroldo Costa e a direção musical de Jorge Simas, e com a participação de Beth Carvalho, Célia Vaz, Claudette Soares, Toque de Prima, Dona Ivone Lara, Elton Medeiros, Francis Hime, Olívia Hime, João Nogueira, Joanna, Joyce, Leci Brandão, Marisa Gata Mansa, Miúcha, MPB-4, Paulinho da Viola, Paulo César Pinheiro, Quarteto em Cy, Valéria Venturini, Zezé Motta, Clarisse, Cristóvão Bastos, Carlos Malta, Luciana Rabello e Carlinhos 7 Cordas, entre outros.

Em 2002, durante entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, a irmã da instrumentista contou que sofria muito em vê-la imobilizada, movendo apenas os olhos. Mas, ainda que a Justiça permitisse, descartou a possibilidade de eutanásia.

Afinal, numa quinta-feira, 10 de junho de 2004, a violonista morre, por insuficiência respiratória, aos 62 anos, em sua cidade natal. Na noite de quarta-feira, fora internada no Hospital Escola Luiz Giosef Jannuzzi, onde faleceu na primeira hora do dia seguinte. Nesse ano, foi lançado o CD "Namorando a Rosa", co-produzido por Maria Bethânia e Miúcha, com a participação de Martinho da Vila, Célia Vaz, Done Ivone Lara, Caetano Veloso, Chico Buarque, Joanna, Bebel Gilberto, Hermeto Pascoal, Turíbio Santos e Yamandú Costa. Abrindo o disco, a única faixa que conta com o violão da própria artista homenageada, "Pedacinhos do céu" (Waldir Azevedo), extraída do disco "Cheiro de mato" (1976). Constam também do repertório as canções "Prelúdio de Rosa" (Turíbio Santos), "Rosinha essa menina" (Paulinho da Viola) e "Mais uma rosa" (Hermeto Pascoal", além de composições da própria violonista, como "Os grilos são astros", "Usina de prata", "Madrinha lua", "Pro amor de Amsterdã" (c/ Martinho da Vila), "Meus zelos", "A pescaria".



Discografia

1963: Apresentando Rosinha de Valença • Elenco • LP
1965: Brasil' 65-Wanda de Sah featuring The Sergio Mendes Trio • Capitol • LP
1965: In person at El Matador. Sergio Mendes & Brasil' 65 • Atlantic/Fermata
1966: Rosinha de Valença ao vivo • Forma • LP
1970: Rosinha de Valença apresenta Ipanema beat • RCA Victor • LP
1971: Um violão em primeiro plano • RCA Victor • LP
1973: Rosinha de Valença • Som Livre • LP
1975: Rosinha de Valença e banda ao vivo • Odeon • LP
1975: Rosinha de Valença e banda ao vivo • Odeon • LP
1976: Cheiro de mato • EMI-Odeon • LP
1977: Sivuca e Rosinha de Valença ao vivo • RCA Pure Gold • LP
1980: Violões em dois estilos. Rosinha de Valença e Waltel Blanco • Som Livre • LP
2004: Namorando a Rosa • Quitanda/Biscoito Fino • CD























Teatro Rosinha, em Valença, RJ, segue abandonado há 13 anos

Reforma do local chegou a ser iniciada, mas não evoluiu. Moradores reclamam do abandono da área.

Fechado há 13 anos para uma reforma, o prédio que abriga o Teatro Municipal Rosinha de Valença, em Valença, RJ, está em ruínas. O local, que foi batizado em homenagem a uma cantora da MPB nascida na cidade, possui buracos, infiltrações e cadeiras quebradas, além da sujeira por toda a parte. "Nisso aí foi investido dinheiro nosso. Meu, da população de Valença. E dá tristeza... É uma homenagem a uma grande artista valenciana", lamentou o professor Pedro Soares Ribas.

O teatro foi fundado em 1987 e já recebeu grandes espetáculos. Como sinal de uma reforma que chegou a ser iniciada, as grades que protegiam a área do prédio foram retiradas, mas a obra não evoluiu. Na área onde seria feita uma ampliação, no mesmo terreno, a estrutura de ferro instalada foi invadida pelo mato e tem sinais de ferrugem. O abandono preocupa moradores. "Essa área tem muita cobra também. Tem gente que fica entrando ali, tem morador de rua também. Fica essa sujeira, lixo ", reclamou o universitário Douglas Vilela Trindade.

Com a dificuldade do município em conseguir recursos, a reforma do teatro passou a ser responsabilidade do governo estadual. "O projeto já está concluído, porém, a gente está aguardando aí o Estado, retomar o posicionamento com relação à licitação, ele tá em fase de finalização. Eu acredito que eles fazendo isso, a gente iniciará a obra imediatamente", explicou o secretário de Obras de Valença, Paulo César Pereira de Souza.



BIO

Thiago Muniz tem 33 anos, colunista dos blog "O Contemporâneo", do site Panorama Tricolor e do blog Eliane de Lacerda. Apaixonado por literatura e amante de Biografias. Caso queiram entrar em contato com ele, basta mandarem um e-mail para:thwrestler@gmail.com. Siga o perfil no Twitter em @thwrestler.

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