sábado, 29 de agosto de 2015

A exumação da CPMF (Por Thiago Muniz)

Sou contrário à proposta de o governo cobrir rombo no orçamento com a CPMF.

Penso que o caminho mais adequado seria outro:
  • aumentar o imposto pago pelos bancos,
  • acabar com a isenção para na exportação do agronegócio, 
  • aumentar a alíquota na exportação de minérios (a Vale paga apenas 4%), 
  • cobrar imposto sobre grandes fortunas e sobre grandes heranças, 
  • acabar com a isenção de impostos sobre lucros e dividendos (que é a forma como os executivos de empresas recebem seus vencimentos), 
  • mexer na tabela do Imposto de Renda, 
  • criando alíquotas maiores para quem ganha muito "y otras cositas más".
Seria positiva uma CPMF com uma alíquota baixíssima (algo como 0,001%, por exemplo), não para arrecadar, mas como mais um instrumento para a Receita combater a sonegação fiscal e a lavagem de dinheiro.

De qualquer forma, salta aos olhos o amadorismo de Dilma e sua equipe. É evidente que haveria reação à proposta de recriar o imposto.

Como a proposta é lançada sem uma sondagem prévia? Nem Michel Temer, a essa altura o fiador do apoio do PMDB, foi consultado.

Ao se declarar contrário à medida, tornou muito difícil sua aprovação.

Os companheiros agradecem as boas maneiras, e partem desinibidos para novos saques. E bota desinibição nisso: no momento em que o país entra oficialmente em recessão, com um rombo recorde de R$ 10 bilhões nas contas públicas em julho — joias de uma década de pilhagem —, os oprimidos profissionais tiram da cartola a ressurreição da CPMF.

Já que você não quer falar em impeachment, querido contribuinte, vai passar a pagar pixuleco também. Mas não se preocupe: é pixuleco oficial, contabilizado, tudo certinho. Você nem vai precisar apertar a mão do companheiro Vaccari.

Para um governo tão preocupado com o povo, que chega a destruir o setor elétrico para fingir que a conta de luz é barata, recriar a famigerada CPMF é o sinal definitivo do desespero. Estão raspando o tacho. Até Delfim Netto, o oráculo do Lula, resolveu fazer o boletim de ocorrência do desastre financeiro. 

E note-se que Delfim foi aquele amigo das horas difíceis, sempre com um malabarismo teórico na ponta da língua para dizer que a administração petista ia muito bem, obrigado. Para Delfim Netto, desembarcar do seu doce teatro progressista, o brejo realmente deve ter alcançado a vaca.

Mas, para um povo cordial e pacato, até o brejo é relativo. Daqui a pouco aparece um intelectual antenado para dizer que, se é para tombar no chão, melhor afundar... Ou então que o brejo já vinha se chegando há muito tempo, e a vaca só estava no lugar errado, na hora errada. Os respeitáveis economistas Mansueto Almeida, Marcos Lisboa e Samuel Pessoa, por exemplo — que não são malabaristas — escreveram que o tombo fiscal brasileiro tem pouco a ver com a era petista.

Sugeriram inclusive que este signatário é maniqueísta e só pensa no PT. Seja como for, após 12 anos de déficits escondidos com maquiagem contábil, reaquecimento da inflação, derrubada dos investimentos graças ao sequestro do Estado pelo partido e, finalmente, uma recessão genuinamente petista, as ponderações do trio de notáveis são pura poesia para João Santana.

Melhor mesmo parar de pensar no PT. Vamos concentrar só no brejo. Mas se você acha, ainda assim, que pagar CPMF para financiar pixuleco é um pouco demais, faça como o chefe do cerimonial do Palácio: tome posição e diga àquela senhora que daqui ela não passa.


BIO

Thiago Muniz tem 33 anos, colunista dos blog "O Contemporâneo", do site Panorama Tricolor e do blog Eliane de Lacerda. Apaixonado por literatura e amante de Biografias. Caso queiram entrar em contato com ele, basta mandarem um e-mail para:thwrestler@gmail.com. Siga o perfil no Twitter em @thwrestler.




Nenhum comentário:

Postar um comentário