quarta-feira, 2 de setembro de 2015

O descaso com a Humanidade (Por Thiago Muniz)

Como diria Renato Russo, "O senhor da guerra não gosta de crianças.."

A morte de uma criança fugindo da guerra é uma afronta, um grito da vida contra a morte.

Mais uma catástrofe anunciada num passado recente se materializa. Migrações em massa e tragédia humanitária em massa.

De que guerras fogem? Aos interesses de quem atendem estes conflitos? Quem lucra com tanta desigualdade social? Quais indústrias, organizações políticas e religiosas e grupos financeiros mais faturam com as mazelas humanas? As respostas não estão tão distantes!

Hoje, mais uma vítima da crise de refugiados. Um garoto sírio, Aylan Kurdi, de 3 anos, fugia de Kobane, na Síria, e havia conseguido escapar das atrocidades do grupo 'Estado Islâmico'. Mas ele, sua mãe e irmão morreram na travessia de barco entre a Turquia e a Grécia.
Ele não morreu afogado. Não foi o mar que o matou. Não foi uma fatalidade.

Ele foi assassinado.

Acorda Europa! Acorda mundo! Acorda!

Estamos vendo ao vivo o que apenas líamos em livros de história geral. Sempre aconteceram, pois onde está o homem, está o erro/ pecado. Por isso foi criada a carreira Jurídica.

Posto esta foto, com um comentário. De incredulidade ou, quem sabe, de protesto. Depois de duas horas, só duas pessoas a curtiram. Parece que a maioria preferiu ignorá-la.

Em contraposição, um monte de bobagens que posto tem muito mais curtidas em muito menos tempo.

Por que será?

Por que a foto é muito forte e as pessoas consideraram impróprio postá-la?

Ou por que não deram bola pra ela?

Confesso que fiquei sem entender. Pra mim, essa foto é uma porrada. Que mereceria ser compartilhada à exaustão. Pelo menos por quem tem um mínimo de sensibilidade.

Se antes muitos tentavam não ver a situação das pessoas que fogem das guerras ou da miséria profunda; se tentavam ignorar os mortos nessa corrida por condições mínimas de vida; se clamavam por mais muros e cercas para mantê-los longe de si, hoje já não podem se fazer de indiferentes diante da cena da morte de uma das maiores vítimas deste mundo cão: as crianças, duplamente indefesas diante da sua incapacidade natural em reagir à xenofobia e ao racismo.

A foto da criança, encontrada morta em uma praia turca após o naufrágio da embarcação em que ela e sua família utilizavam para chegar à Grécia ganhou as manchetes de todos os jornais do mundo hoje.

De que guerras fogem? Aos interesses de quem atendem estes conflitos? Quem lucra com tanta desigualdade social? Quais indústrias, organizações políticas e religiosas e grupos financeiros mais faturam com as mazelas humanas? As respostas não estão tão distantes!

Embora muito se fale da questão europeia, não podemos esquecer que vivemos esta realidade aqui, em nosso próprio país. E, da mesma forma, vemos clamores por todos os cantos para que haitianos e bolivianos, que fogem da miséria, sejam expulsos, impedidos de entrar em nosso país. Vemos ataques com armas nas ruas, revoltados das redes sociais praticando o assédio e a humilhação, em vídeo, com grande repercussão e aceitação.

Aqui impera o mesmo discurso, infelizmente. Parlamentares, declaradamente representantes destes revoltados, berram aos microfones da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara dos Deputados, da qual sou membro, que não existe xenofobia, que estes refugiados são, na realidade, criminosos e guerrilheiros e que, portanto, são vítimas de uma suposta violência justificada. Atacam qualquer política que garanta a estes imigrantes, ou mesmo à população pobre e discriminada do nosso próprio país, uma vida digna e produtiva.

A imagem deste pequeno garoto morto pode muito bem representar a forma como o nosso país vem tratando aqueles que a ele recorrem. Não podemos nos omitir, e não iremos. Por um mundo mais humano às próximas gerações humanas!

A machadada cruel dos nossos tempos faz dela o retrato com o qual a consciência do mundo há de conviver como expressão dessa afronta. O guarda fez o gesto desesperado; mas antes do guarda foi o mundo que não soube salvá-la; o guarda foi o herói dos olhos tristes, fez tudo o que podia. O mundo não soube salvá-la. Seu único destino, o de seus pais, o de seus passos, era sobreviver; seu horizonte não era sequer viver, ter profissão, amores e despedidas: seu destino, esse que agora jaz sem vida no mundo, era o de desenhar na areia a casa, o barco, e já não há nem casa nem barco nem nada.

Não há nada. O mundo levou-lhe tudo: nem este nem aquele, nem este país nem este outro: o responsável por esta terrível expressão dos nossos tempos é o mundo inteiro, porque a criança é também o mundo inteiro. Suas mãos são os desenhos que deixa, seu corpo de três ou quatro anos é o que resta da árvore que ela teria imaginado que era a vida, e antes da hora soube que o mundo não sabe salvar as crianças, porque também desconhece como se salvar. Aí jaz, nessa praia, o mundo inteiro.




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"Vou Hibernar
Acorde-me quando a humanidade
não for mais a mesma
Quando o homem deixar de lado
toda a sua indecência
E pensar no seu próximo mais do que
em sua própria reverência

Vou hibernar até que não haja mais orgulho
Até que todas as formas de capitalismo disfarçado
se extinguam
E até que viver seja mais importante do que o poder

Avise-me quando o mundo não for mais mundo
Quando a humanidade for mesmo 'humanidade'
E quando tudo o que precisarmos para viver seja mesmo
Viver
Sem mais mediocridade"

(Maria Ines Quintella)





BIO

Thiago Muniz tem 33 anos, colunista dos blog "O Contemporâneo", do site Panorama Tricolor e do blog Eliane de Lacerda. Apaixonado por literatura e amante de Biografias. Caso queiram entrar em contato com ele, basta mandarem um e-mail para:thwrestler@gmail.com. Siga o perfil no Twitter em @thwrestler.



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