segunda-feira, 29 de agosto de 2016

A democracia dilacerada (Por Thiago Muniz)

"O que cada senador sente por mim e o que nós sentimos uns pelos outros importa menos, neste momento, do que aquilo que todos sentimos pelo país e pelo povo brasileiro. Peço: votem contra o impeachment. Votem pela democracia." - (Dilma Rousseff)


"As mulheres brasileiras têm sido, neste período, um esteio fundamental para minha resistência. Me cobriram de flores e me protegeram com sua solidariedade. Parceiras incansáveis de uma batalha em que a misoginia e o preconceito mostraram suas garras." - (Dilma Rousseff)


"Não esperem de mim o silêncio dos covardes. No passado, com as armas, e hoje com a retórica jurídica, pretendem acabar com o estado de direito (...). Não luto pelo meu mandato por vaidade ou por apego ao poder, luto pela democracia, pela verdade e a justiça." - (Dilma Rousseff)


Começou o ato final da farsa do impeachment de Dilma. A ópera-bufa, iniciada com a ruptura entre burguesia ilustrada do tucanato paulista e o iluminismo, chutando pra vala o compromisso com a Constituição de 88, renovando sua representação à direita e abraçando fervorosamente o obscurantismo, encaminha-se para o grand finale sob a forma de um golpe de Estado a frio, sem tanques nem fuzis, substituídos pela eclética coalizão de rentistas, ladrões, fascistas, traidores e imbecis, bem armados de uma raivosa tropa de choque parlamentar, pelo controle de segmentos amplos do judiciário e legitimados pela narrativa massificada pelo monopólio midiático de Pindorama.

O espetáculo durou 1 ano e 10 meses: iniciou-se com a deslegitimação do resultado das urnas de outubro de 2014, a vigarice do pedido de auditoria das urnas, a desqualificação do eleitorado (a massa de ignorantes e dependentes de bolsa-família decidiu o pleito, segundo os tucanos), seguido do vale-tudo para inviabilizar o governo.

A mudança de retórica do PSDB - que Wanderley Guilherme Dos Santos chamou de "linguagem dos jagunços" e Juarez Guimarães tratou com brilhantismo no artigo http://cartamaior.com.br/… refletiu a organização de um centro político disposto a coordenar a estratégia golpista.

Nestes 22 meses, rolou de tudo: uma denúncia forjada por um auditor do TCU em conluio com um procurador do órgão e assinada por um velho jurista tucano, um velho ex-petista a transbordar ressentimento e uma tucana new generation do quadro docente da USP e devidamente contratada por 45 mil mangos, cuja atuação performática nos dá o direito de especular que sonha, em breve, ocupar como mandatária uma das cadeiras que hoje utiliza como convidada; a abertura das torneiras das entidades patronais, pato amarelo a frente, a irrigar generosamente os "novos movimentos sociais" de gente diferenciada, sob a cobertura cinematográfica da imprensa a destacar o ativismo heróico da nova cidadania, ao mesmo tempo em que aumentava o tom da criminalização da esquerda, transformando partidos e movimentos de trabalhadores em tentáculos de uma máfia vermelha; a chantagem pública e sabotagem comandada por um presidente da Câmara lobista e corrupto, cujos bons préstimos aos interesses da plutocracia o garantem até hoje o gozo da liberdade e a conivência criminosa de seus pares. Dilma, sem ter cometido um único crime, será cassada e perderá seus direitos políticos ANTES de Cunha.

Afirmo que perderá seus direitos e o mandato conferido pelo voto popular porque não deposito uma migalha de expectativa na dignidade dos representantes da burguesia que infestam o parlamento brasileiro, nem esperanças em milagres. 

Afinal, trata-se MESMO de um golpe de Estado. Considerar a possibilidade de mudança de votos baseada no convencimento de parlamentares das teses da defesa de Dilma é, ao mesmo tempo, acreditar que o processo é democrático e ignorar que não só todos os argumentos da defesa foram solenemente desprezados pela maioria do Congresso durante todas as fases do julgamento, como o governo interino funciona desde maio com ares de definitivo, destruindo em três meses pilares que levamos mais de uma década para edificar nos governos democráticos comandados pelo PT.

Fosse eu um senador comprometido com a democracia, me recusaria a votar. Encerraria minha participação forçada nesta farsa saindo de braços dados com Dilma, Lula, Boulos, Sabatella, Chico Buarque, João Paulo, Luciana, Rossetto e outros representantes da sociedade democrática que hoje estarão no Senado acompanhando a presidenta. 

Que comandem o grand finale os golpistas tão afoitos pelo retorno ao comando do Estado que dispensaram uma etapa até então fundamental para isto, chamada voto popular; mas que o façam sozinhos, sem as digitais de gente digna e valente como Vanessa, Gleisi, Fátima, Lidice, Lindbergh, a dar ares de legalidade a este escárnio na condição de minoria derrotada.

O que está em jogo é a auto-estima dos brasileiros e brasileiras, que resistiram aos ataques dos pessimistas de plantão à capacidade do País de realizar, com sucesso, a Copa do Mundo e as Olimpíadas e Paraolimpíadas.

O que está em jogo é a conquista da estabilidade, que busca o equilíbrio fiscal mas não abre mão de programas sociais para a nossa população.

O que está em jogo é o futuro do País, a oportunidade e a esperança de avançar sempre mais.

O PMDB chegará ao poder pela terceira vez sem ser eleito. O PSDB se coloca como artífice de uma manobra "legal",

A maioria dos julgadores da presidenta Dilma no senado tem processo na Justiça e nove deles nem foram eleitos pelo voto! O presidente da casa, Renan Calheiros está envolvido em uma série de processos de corrupção. E estão tirando uma presidenta eleita pelo voto popular, numa tese frágil de "pedaladas fiscais". 

Não é a utilização e devolução de recurso para os bancos públicos que coloca a economia em crise e sim os desvios bilionários de tantos corruptos políticos no país! O sistema político brasileiro e esse Impeachment são uma farsa!

Em 2013, nós ocupamos as ruas acreditando que poderíamos fazer parte do processo político, forçando os engravatados de Brasília a nos ouvir. Três anos depois, são 81 senadores que decidirão o futuro de 200 milhões de brasileiros.

Dilma Rousseff desmascara os golpistas e revela que os paneleiros apoiadores desse golpe ao voto de 54,5 milhões de brasileiros foram massa de manobra, inocentes úteis que usaram uniforme da corrupção, camisas da CBF, para exigir o "fim" da corrupção no Brasil...mais icônico do que está ocorrendo é impossível, a mídia e políticos corruptos fizeram uso da falta de noção dos incautos indignados seletivos.

Sem esconder seus rostos, os defensores das elites colocam mais uma vez a democracia no banco dos réus. Prepare-se para entrar em um período de 10 anos de instabilidade contratual, que irá colocar o povo na miséria, afetará aposentadorias, cortes em programas sociais e deixará escancarada a face anti-democrática e avarenta das elites brasileiras.

Sim, o governo Dilma foi desastroso em muitos pontos. Sim, grande parte do PT se envolveu em casos de corrupção. Sim, passamos por uma grave crise econômica. Agora, NADA disso legitima o impeachment. Dilma não tem contas na Suíça. Dilma não teve enriquecimento ilícito. E, antes de falar "Dilma na cadeia!" responda apenas uma pergunta: do que é que a Dilma está sendo acusada mesmo? Você sabe o que são pedaladas fiscais? Você sabe que, se a lei fosse igual para todos, mais da metade dos governadores dos estados brasileiros teriam que sofrer impeachment, pelos mesmos motivos que Dilma? Ser contra isso e querer Temer fora, não significa ser a favor do PT. Significa entender que este processo já nasceu corrompido, que fere a nossa democracia profundamente. Não bastasse tudo isso, ainda estaremos entregando nosso país aos abutres. Temer, Jucá, Renan, Cunha, Caiado, Aécio e seus companheiros representam uma elite opressora que não quer o desenvolvimento do Brasil. Querem fazer a manutenção da desigualdade social extrema e assim poder continuar explorando as classes menos favorecidas. Querem garantir que a engrenagem da corrupção não pare, que nenhum deles seja punido por nada, que as empresas públicas sejam privatizadas e que a população continue desinformada, sem educação e sem cultura. Afinal, um povo que não conhece a sua história, que não sabe como suas instituições funcionam, nunca será capaz de exigir de seus políticos o que é realmente necessário. Pense nisso...
A História não fará justiça a Dilma; este não é o seu papel. Mas a História registrará a infâmia destes dias, a democracia dilacerada, a fraude escancarada para impor a vontade do dinheiro. Registrará o nascimento de um governo ilegítimo, a desmoralização internacional, o saque aos direitos do povo. E narrará o surgimento de uma nova consciência democrática a defender o nosso legado, corrigir os erros e reorganizar os nossos sonhos, forjada na resistência aos ataques já iniciados pelo golpe, fortalecida pelo espírito generoso e solidário do nosso povo. A luta só começou.


"Se a elite financeira e política do Brasil é o lixo moral do mundo, a classe-média é um gado analfabeto funcional. Respira que é de graça." - (Fagner Torres)


"Dilma vai cair, isso é um fato. Mas confesso que a ansiedade mesmo é pelo dia seguinte. Quando o Impronunciável colocar em prática seu pacote de maldades. O fim da CLT, a entrega do pré-sal, os cortes no SUS, a privatização total do Ensino Superior. E o que eu farei diante do cenário? Sentarei na primeira birosca que estiver no caminho, abrirei uma ampola do diurético e darei boas risadas quando os conhecidos que apoiaram esta farsa se perceberem sem seus direitos, sua paz, e, em seguida, sua vida. Será o meu momento William Waack." - (Fagner Torres)






















BIO

Thiago Muniz tem 33 anos, colunista dos blog "O Contemporâneo", do site Panorama Tricolor e do blog Eliane de Lacerda. Apaixonado por literatura e amante de Biografias. Caso queiram entrar em contato com ele, basta mandarem um e-mail para: thwrestler@gmail.com. Siga o perfil no Twitter em @thwrestler.



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