sexta-feira, 7 de outubro de 2016

O voto de cabresto enraizado nas eleições (Por Thiago Muniz)

O voto de cabresto representou uma forma eleitoral impositiva e arbitrária, imposta pelos coronéis. Trata-se de um termo dado a partir da superposição de duas palavras:Voto, que é o exercício pleno da democracia; e a palavra Cabresto, do latim capistrum, que significa "mordaça ou freio", assim, temos um conceito quase paradoxal, na medida em que representa a democracia amordaçada e guiada como um animal de carga.

Sem espanto, nas regiões mais carentes do Brasil, especialmente no nordeste, esseclientelismo é uma prática recorrente desde os tempos do Império, e fora lugar comum durante a República Velha - e talvez perdure até os dias de hoje -, posto que nosso sistema eleitoral era frágil e fácil de ser adulterado e manipulado segundo os interesses escusos das elites agrárias, tendo em vista que o eleitor só necessitava entregar pessoalmente um pedaço de papel com o nome do seu candidato, o qual poderia muito bem ser escrito pelo próprio coronel, já que a maioria desses eleitores nem mesmo sabia ler, e depositá-lo numa urna, num saco de pano.

Muito antigamente, ainda na República Velha, os “coronéis”, como eram chamados os oligarcas locais, tinham várias maneiras de obrigar os eleitores a votarem em seus candidatos. Não era incomum que o chefe entregasse ao caboclo metade de uma cédula de dinheiro – e o infeliz só receberia a outra metade se votasse no nome indicado pelo “coronel”, sob a devida supervisão de seus peões. É notável, nesse contexto, a troca de "favores" que constituiu o sistema de "voto em aberto", o qual ficara então conhecido como "voto de cabresto",

A não ingerência de alguma forma de pressão sobre o direito de escolha dos eleitores é a mesma coisa que encontrar a liberdade completa para o ato de votar, o que, por sua vez, é comparável ao sonho de felicidade em toda a sua plenitude terrena. O chamado voto de cabresto ainda existe, apenas passou de forma rudimentar e virulenta para um modelo moderno e sofisticado. Todavia, muitos ‘líderes’ impostos, se pudessem, atuariam de maneira cruel e até cometeriam atrocidades físicas.

Nós não podemos deixar de sonhar. Seria perder a total esperança de melhores dias ou cair no abismo da desilusão.

No sistema político e eleitoral brasileiro, nos dias atuais, é muito difícil controlar o voto das pessoas. Mas há novos mecanismos de pressão que são usados. Por exemplo, anotar as secções em que os eleitores de uma determinada família ou localidade votam, para depois conferir se a votação do candidato correspondeu ao que se esperava dos eleitores, dando dinheiro, lotes e alimentos (cesta básica), assim que funciona a compra de votos. Embora não seja possível se determinar “quem” votou em “quem” por este método, ele é eficaz entre a população mais pobre como instrumento de pressão psicológica.

Mas há também o uso de poder das milícias, nas comunidades pobres, que obrigam os moradores locais a votar em quem eles querem, ou não permitem o voto em candidatos que a milícia não aceita; se a população não cumpre a milícia pode abusar do poder e causar mortes ou parar de “ajudar” os moradores.

Um governo formado a partir desse tipo de conchavo condenaria o Brasil a um retrocesso sem paralelo na história recente. Executivo e Legislativo estariam se associando não para fazer respeitar a democracia, mas para solapá-la, em favor de sombrios negócios. Se esse processo não for interrompido, os coronéis e seus aspones terão corrompido totalmente a política, empreendimento em que estão empenhados desde que República chegou ao poder.













 
BIO

Thiago Muniz é colunista dos blog "O Contemporâneo", do site Panorama Tricolor e do blog Eliane de Lacerda. Apaixonado por literatura e amante de Biografias. Caso queiram entrar em contato com ele, basta mandarem um e-mail para: thwrestler@gmail.com. Siga o perfil no Twitter em @thwrestler.



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