quarta-feira, 1 de março de 2017

Pós Apuração do Carnaval RJ: Portela campeã (Por Thiago Muniz)

Foi um rio que passou em minha vida.

Merecido! Eu nunca vi coisa mais bela.

Desfile sem erros, com uma perícia incrível na harmonia e na evolução.

Eu Chorei. Chorei porque foi o primeiro título que vivencio com esta escola. Muito sofrimento e injustiças durante esses anos todos de jejum.

Um ano depois da morte de seu presidente, Marcos Falcon, a Portela reencontra o caminho da vitória numa disputa apertada com a Mocidade Independente de Padre Miguel. A escola é a maior campeã do carnaval carioca, com o deste ano, a agremiação acumula 22 títulos. O seu último campeonato tinha sido conquistado em 1984.

No aniversário do Rio, a Portela se consolida como a maior campeã do carnaval carioca que sempre foi e faz a alegria não só de seus fãs, mas dos de todas as escolas que a respeitam, admiram e, de alguma forma, se inspiraram nela. Há quem diga que, no carnaval, o título é um detalhe. Pode até ser mesmo, mas ser campeão é bom demais!

Gostei muito das justas e obrigatórias homenagens ao passado e às divindades, contemplando diversas crenças. Cumpriu também importante papel social ao trazer o (ex-)Rio Doce à avenida.

Portela! O Rio de Janeiro precisa da Águia altaneira sempre grande e vitoriosa! Como dizia o presidente Marcos Falcon: "quem ousa, vence" e, "quando a causa é justa, vale a pena morrer por ela.".

Quero deixar registrado o fascinante desfile da Mocidade Independente de Padre Miguel. O gigante acordou, a auto estima voltou para a agremiação, a escola nunca deixou de ser grande. A hora da escola voltar a ganhar chegará.

“Quem nunca sentiu o corpo arrepiar ao ver esse rio passar”

“Quem nunca sentiu o corpo arrepiar ao ver este rio passar?”. Cantando este enredo, a Portela brilhou na Marquês de Sapucaí na madrugada de terça-feira (28), sendo a penúltima escola a desfilar: se destacou em vários quesitos, mostrou emoção, chão forte e plástica de muita qualidade. Não foi nota 10 apenas em efeitos especiais. Fez, com folga, o melhor desfile destes dois dias do Grupo Especial do Rio de Janeiro.

Nas alegorias, acabamento impecável e soluções com a assinatura do carnavalesco Paulo Barros. Nas fantasias, muito volume e bom gosto; junto neste pacote, evolução tranquila e sem achatar seus componentes, que brincaram Carnaval e contribuíram para o sucesso desta apresentação.

Sabe-se que um bom enredo dá bom samba. Na Portela, isso aconteceu e com louvor. O intérprete Gilsinho cumpriu seu papel com maestria, com ajuda de seu carro de som e ainda de mestre Nilo Sérgio. Sapucaí cantou, desfilantes retribuíram. Foi sensacional.

Houve catarse em vários outros momentos do desfile. A começar pela comissão de frente, assinada por Leo Senna e Kelly Siqueira: representou a piracema, fenômeno que se dá quando peixes nadam contra correnteza. Um enorme elemento alegórico complementou a performance dos 15 componentes-peixes.

No abre-alas, veio a “Fonte da Vida”, curiosamente em tons dourados e com belo efeito de luz. Teria nascido aí, segundo concepção da escola, o rio azul e branco portelense. Logo após, um setor representou mitos relacionados à água de rios.

O segundo carro, também muito impactante, mostrou o Egito e o Rio Nilo. Efeitos especiais faziam barquinhos irem de um lado a outro. Na saia, várias esfinges também imprimiram bom gosto e primoroso acabamento.

O setor seguinte mostrou os rios e os aspectos naturais, mais uma vez, de “encher as medidas”. Alas representavam animais como crocodilos, além de mananciais, e até mesmo lendas indígenas como o “Boto Cor-de-Rosa”. A terceira alegoria, de nome “Boiuna”, complementou a narrativa: a enorme cobra, fruto da lenda amazonense que impera entre os ribeirinhos, veio circundada com mais um efeito especial: jangadas nas laterais arrancaram aplausos do público.

Se até este momento o desfile da Portela era emocionante, outro setor potencializaria ainda mais este sentimento: a quarta alegoria, “Um rio que era doce”, fez alusão ao absurdo desastre sofrido por Mariana, cidade mineira, e outros locais afetados pela negligência dos responsáveis. Com cópia quase que fiel às imagens horríveis divulgadas pela mídia, teve um ponto alto: um rapaz, caracterizado de morador, veio “chorando” .

A Portela encerrou a narrativa com um setor em sua exaltação: “Meu coração se deixou levar” relembrou figuras que marcaram seus 94 anos. Na última alegoria, acoplada, veio o “Altar do Carnaval”, e junto a ele personalidades portelenses, além de uma homenagem a Oxum.

Resumo do enredo

O rio inspira os homens. De suas águas, pescam o sonho e o conhecimento, colhem a história e o encantamento. O rio azul e branco nasce da fonte de onde se originam a vida e as culturas humanas. Prima matéria, a água doce está associada aos mitos de criação do universo das antigas civilizações, é a manifestação do sagrado nas religiões e a maior riqueza para as sociedades modernas. A Águia bebe dessa água cristalina em sua nascente, onde brota o bem mais precioso criado pela natureza. No berço do samba, o pássaro abençoa a passarela, leito do rio da Portela. Segue recolhendo a poesia de muitos outros rios, enquanto mantém o seu rumo. Atravessa a Avenida, lavando a alma de quem deseja ver o rio passar, saciando a sede de vitória, irrigando de alegria o povo que habita a beira do rio. Suas águas purificam o corpo, afogam a tristeza e renovam as forças a cada alvorada. Convida a conhecer seus mistérios, cruzando aldeias e povoados, cidades e países distantes.

O rio é velho e por ele correm muitas histórias, porque sempre esteve ali a guardar os segredos das águas que deram origem ao mundo. O rio é novo porque está sempre em movimento e nunca passa duas vezes pelo mesmo lugar. O rio não pode voltar. Ele segue em busca do seu destino. Nasce como um fio d’água, calmo e sereno, e continua para receber muitas contribuições em seu curso. Enquanto cresce, irriga e fecunda as margens de onde se colhe o alimento do corpo e da alma. Avança sobre a terra e não se deixa vencer pelas pedras que encontra no caminho. Passa inspirando canções e poemas, linhas e formas sinuosas. Em sua exuberância, desfila entre matas, plantações, casas humildes e mercados, do interior até chegar às grandes metrópoles e receber as imensas construções fincadas em suas margens. O homem e o rio estão ligados pelo corpo e pelo espírito. Os artistas, músicos e cantadores, arquitetos e escritores incorporam a alma do rio e refletem suas imagens. Aqueles que se entregam à devoção e murmuram suas preces, pedidos e promessas fazem procissões e oferendas, agradecidos pelos desejos atendidos. O homem tira a vida do rio. A vida é como um rio que corre em direção ao seu destino.

"Salve o samba, Salve a santa, Salve ela...
Salve o manto azul e branco da Portela!
"

Veja ordem na apuração deste ano:

1º) Portela – 269,9 pontos
2º) Mocidade – 269,8 pontos
3º) Salgueiro – 269,7 pontos
4º) Mangueira – 269,6 pontos
5º) Grande Rio – 269,4 pontos
6º) Beija-Flor – 269,2 pontos
7º) Imperatriz – 268,5 pontos
8º) União da Ilha – 267,8 pontos
9º) São Clemente – 267,4 pontos
10º) Vila Isabel – 267,4 pontos
11º) Unidos da Tijuca – 266,8 pontos
12º) Paraíso do Tuiuti – 264,6 pontos

PS: Madureira em festa dupla. Império Serrano campeã da série A, um primor.






























BIO


Thiago Muniz é colunista do blog "O Contemporâneo", dos sites Panorama TricolorEliane de Lacerdablog do Drummond e Mundial News FM. Apaixonado por literatura e amante de Biografias. Caso queiram entrar em contato com ele, basta mandarem um e-mail para: thwrestler@gmail.com. Siga o perfil no Twitter em @thwrestler.



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